domingo, fevereiro 19

próximo destino: Salamanca, a mais bela praça de Espanha


"Nota-se melhor numa tarde clara: os dias fogem de Espanha por Castela-Leão, saltando a fronteira por Salamanca. À hora a que o sol vai já repousando para o lado de Portugal, as catedrais e igrejas da cidade incendeiam-se numa última luz, ao crepúsculo, antes de o reflexo monumental ser engolido pelo espelho escuro do rio Tormes. Silhueta e postal da "Salamanca eterna", as altas torres de leronimus, incadescentes por minutos, extinguem-se, de súbito, contra um céu rosa, púrpura, por fim violeta - um céu de butano. Depois, é a noite. Salamanca, como as cidades que sofrem de eternidade, liga os holofotes, para que a "eternidade" se aguente visível até de manhã. As pedras medievais e barrocas dormem nessa encenação. Mas não conseguem conter o bulício: com hora sempre marcada para a Plaza Mayor, uma outra cidade acorda. Uma cidade inquieta e inquietante.
Em Salamanca, os passos iniciam-se, confluem, encontram-se nesta praça: para o trabalho, as aulas, os copos, os amores. O arco do Ayuntamiento, sob o relógio da torre (um engenho oitocentista), está sempre habitado por um grupo ansioso, que dá pequenos passinhos de pássaro, erráticos mas num perímetro curto, e se olha sem falar. Gente que espera gente, pois é "debaixo do relógio" que todos os encontros são marcados. "É quase impossível pensar num dia em que não passemos, pelo menos uma vez, pela Plaza Mayor", diz Oscar Perez, dono do novo Delicatessen & Café, um dos locais que marcam o circuito de comer e beber em Salamanca. "A Plaza acompanha a vida da cidade e de cada um de nós. É lá que estão as minhas melhores memórias: a primeira saída, a primeira namorada..." Sob o relógio.
[...]
Ou o impacte é outro, efémero como cada noite. Salamanca, quando mexe, tem uma nota latina. Mais esta inquietação: a língua franca da cidade não é o espanhol. É a salsa. Em bares como El Savor, as fronteiras caem. Um dançarino de Cartajena das Índias, ou de Pernambuco, ou do México, pode, então, festejar a música em volta de um casal castelhano que, apesar da idade avançada, invade a pista com um gozo enorme. O mundo abre-se, há aplausos. Alguém grita: "Eu quero envelhecer assim!"."

Pedro Rosa Mendes, in Volta ao Mundo.

2 Comments:

Blogger Catharina said...

"Aquela" volta ao mundo..

1:22 da tarde  
Blogger tin tin said...

pq é q está aqui exposta a miha fotografia????? Não me lembro de ter assinado nada!

2:13 da tarde  

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