quinta-feira, fevereiro 23

Agora pára. Fica quieta, cala-te. Já agora, deita-te, podes pousar as mãos no colo, calmamente, uma primeiro, depois a outra. Mas não as mexas, não te mexas, não pisques os olhos, não suspires, não humedeças a boca, não faças nada, deixa de existir.
Pairas, agora. Sem os braços abertos, sem mantos brancos, sem auréleas ou asinhas do anjo que foste nos tempos mais terrenos, sem a bondade que existiu juntamente com a crueldade inerente, sem mais nada. Desaparece, não te quero ver, fazes-me impressão! Os teus olhos verd'água, onde estão? A pequena sarda que repousava na pálpebra direita? A perfeita cutícula da tua unha? As pontas do teu cabelo límpido? Desaparece, por favor, já não podes existir, já não te vejo embora continues deitada nesse manto do meu desespero, coberto também da falsidade floral do carinho dos outros que em nada se parece com o meu, em nada se aproxima, em nada se assemelha àquilo que sinto por ti... Ou sentia? Já não sei, já não sie oq ue pensar, nem como pensar nem quando pensar ou por quê pensar... Quantos minutos passaram desde que estou neste estado letárgico? Quantas horas? Dias? Dói-me a barriga, de fome. A culpa é tua, mas não me consigo levantar, não consigo tirar este fardo humano, não me consigo tirar deste fardo humano. Quero saír, quero ir ter contigo! Não precisas de falar, nem de ver, nem de aturar, posso simplesmenete estar a algum espaço ou tempo de distância e observar, num gesto digno de voyeurismo, observar-te. Just... just show me the way.

1 Comments:

Blogger Catharina said...

Pode ser que encontres o lugar ideal - esse lugar de emocões fortes que procuras. Ou talvez te poupe dessa agonia porque, a vida, ela pópria uma selva, encarregar-se-a de ti.

1:21 da tarde  

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